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De 2 a 7 de junho de 2025 I Londres
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O futuro chega à Europa

O que esperar da primeira edição europeia do festival que promete redefinir a intersecção entre tecnologia, cultura e negócios


2 de junho de 2025 - 18h39

Depois de quase quatro décadas provocando colisões criativas em Austin, o SXSW finalmente atravessa o Atlântico. De 2 a 7 de junho, Londres sediará a primeira edição europeia do festival que se tornou referência global em inovação, impacto cultural e experimentação tecnológica. E estarei lá, em Shoreditch, para trazer ao Meio & Mensagem uma visão analítica e estratégica do que promete ser um novo marco na agenda global de inovação.

Minha relação com o SXSW não é nova — há mais de uma década acompanho o festival em Austin, vivenciando de perto o nascimento de tendências que depois moldaram mercados inteiros: do streaming à creator economy, da cultura das startups à ascensão da inteligência artificial. Voltar ao festival agora, em sua primeira edição europeia, é como revisitar um velho conhecido sob uma nova lente — mais global, mais sensível às pautas contemporâneas, e com a possibilidade de observar como a Europa reinterpretará um modelo que sempre foi muito enraizado na cultura americana da disrupção.

O SXSW London não parece ser apenas uma extensão do modelo texano. Tudo indica que será um remix: uma releitura crítica, multicêntrica, conectada às urgências do nosso tempo. Com mais de 850 palestrantes, 500 artistas e 110 filmes previstos, distribuídos em dezenas de espaços icônicos da cidade, o evento se ancora em um território onde arte, dados, ética, comportamento e negócios já convivem naturalmente. Shoreditch — o bairro escolhido — funciona como solo fértil para as “beautiful collisions”: encontros improváveis que geram inovação genuína. É nesse contexto que espero ver ideias, marcas e pessoas se cruzando para gerar o que ainda não existe.

A programação, ainda que vasta, já anuncia alguns momentos que devem se tornar históricos. Sir Demis Hassabis, CEO do Google DeepMind e vencedor do Nobel de Química 2024, trará sua visão sobre os caminhos éticos e estratégicos da IA. Jane Goodall, aos 90 anos, deve fazer uma de suas últimas aparições públicas em defesa do planeta. Gary Vaynerchuk apresentará tendências sobre o marketing de 2030, enquanto Erykah Badu mostrará seu lado DJ em um set que promete surpreender. E, entre os nomes que mais aguçam minha curiosidade, destaco também a presença de Everett Katigbak
Creative Director da Anthropic, uma das companhias mais influentes na discussão contemporânea sobre inteligência artificial responsável. Seu posicionamento sobre segurança, alinhamento e o futuro dos modelos fundacionais será certamente um dos pontos de atenção mais relevantes do evento.

No meu planejamento para o evento identifico seis grandes trilhas que devem organizar as conversas que realmente importam para os próximos anos:

1. A consolidação da IA como infraestrutura de mercado e de sociedade, com nomes como Alex Kendall (Wayve) e Sumer Juneja (SoftBank);

2. A reinvenção da economia criativa, onde creators operam como plataforma, mídia e produto, e não apenas como canal de distribuição;

3. A sustentabilidade como lógica operacional, não apenas pilar estratégico — com foco em soluções regenerativas na Climate House;

4. A fusão entre saúde, tecnologia e comportamento, que inclui desde o futuro do NHS até o avanço de biohacks e neurointerfaces;

5. A transformação do trabalho e das organizações, especialmente pós-pandemia, com empresas reavaliando sua cultura interna e estrutura de valor;

6. A cultura imersiva como nova linguagem — explorada por nomes como Marina Abramović, Beeple e instalações que unem XR, moda e arquitetura sensorial.

Essas são, claro, linhas-mestras projetadas a partir da curadoria do festival. O verdadeiro valor está em tudo que pode emergir nos espaços entre as sessões: as conversas paralelas, os encontros informais, as provocações espontâneas.

E é aí que espero direcionar meu olhar: para os bastidores, para os sinais fracos que antecipam os próximos movimentos fortes. A promessa de networking é intensa — com investidores atentos ao Venture Spotlight (que deve oferecer aportes de até £100.000 a startups promissoras), ativações de marcas como Ray-Ban, Canva e Supercell, e uma cena cultural que conecta vanguarda artística com estratégia de negócios.

Diferentemente de conferências meramente tecnológicas, o SXSW mantém sua raiz cultural. Espera-se que apresentações como a de NAO com “The Blues Project”, o experimentalismo eletrônico de Alice Glass e a potência emocional do The Kingdom Choir criem experiências onde música, identidade e tecnologia se entrelaçam como narrativa.

Estarei atento às estratégias das marcas globais no contexto pós-pandêmico, às tecnologias emergentes com maior potencial de impacto no Brasil, aos movimentos da economia criativa europeia que podem inspirar o nosso mercado, e às oportunidades reais de colaboração entre os ecossistemas britânico e brasileiro.

Mais do que um festival, o SXSW London se apresenta como um observatório privilegiado — um ponto de inflexão para mapear os rumos do futuro próximo. Em tempos de incerteza e aceleração, eventos como esse funcionam como bússolas. Não apontam uma direção única, mas ajudam a entender quais perguntas devemos fazer agora para continuarmos relevantes amanhã.

Nos próximos dias, trarei essa cobertura para o Meio & Mensagem, compartilhando não apenas os painéis e anúncios, mas também o que acontece nos bastidores: onde estão os movimentos silenciosos que antecipam as grandes transformações.

Londres nos espera. O futuro também.

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